Antes de sair de casa, lembro de ter escutado alguém na rua sobre como a gente se acostuma aos dias cinzas, à fuligem no ar e à fumaça, de um jeito que começa a precisar de esforço pra lembrar de como os dias eram antes.
Mas eu não prestei muita atenção.
Só me peguei pensando nisso quando já tava de pé, esperando que abrissem o próximo portão, porque não me lembro como era a vida antes de tudo isso ser normal.
O barulho dos cadeados e os gritos.
Em alguns cenários a gente não tem muita escolha que não seja seguir com o que tem, e como tem. E o fato de eu ter ficado pelo menos uns quinze minutos tentando me lembrar a palavra em português para “overcome” me fez perder todo o raciocínio.
Na verdade eu perdi o raciocínio quando ouvi o barulho das correntes se arrastando no chão… eu vi a moça fechando o último cadeado e ao seguir a corrente menor e mais delicada fui parar nos seus pés.
Não vou dizer que reconheci seus pés; reconheci foi seu jeito único de tirar o cigarro da boca. Eu estava tão despreparada pra você que vi seu rosto mas não consegui entender direito seus traços.
Deve ser por isso que você me pareceu diferente, mas não é você…
eu estou,
o mundo está,
mas você ainda tira o cigarro da boca do mesmo jeito.
Overcome significa superar.
P.S: Esse é um pequeno excerto de um conto de muitos anos atrás que eu achei no meio de uns arquivos de coisas bem antigas. Parece que eu sempre “gostei” - ou precisei - escrever sobre relacionamentos que, por uma razão ou outra, acabam.
Algumas coisas nunca mudam.
A newsletter de hoje foi curta e um exercício de comprometimento, de fazer um pouquinho todo dia mesmo que não me deixe lá tão satisfeita. Como o texto do mês passado, que lendo agora eu percebo que não gosto muito, mas você pode ficar com ele se ainda não tiver lido:
Lembrando que aqui não existe monólogo, por isso você pode, e DEVE, responder aos emails que quiser, mesmo que a gente não se conheça (ainda).
Acenos distantes,





Curto e profundo.